ATA DA DÉCIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATI­VA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 25.5.1992.

 


Aos vinte e cinco dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Quarta Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a conceder o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Frei Irineu Della Libera, concedido através do Projeto de Resolução n° 65/91 (Processo n° 3179/ 91), de autoria do Vereador Nereu D’Ávila. A seguir, constata­da a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Frei Irineu Della Libera, Homenageado; Frei Sérgio Dall’Moro, Representando a Ordem dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul; Frei Rovílio Costa, Representando a Comunidade da Escola Superior de Teologia dos Capuchinhos; Ir­mão Norberto Rauch, Magnífico Reitor da Pontifícia Universida­de Católica; Doutor Élbio Lage, Presidente do Lions Club Porto Alegre - Bento Gonçalves; Jornalista Luiz Carlos Machado Lis­boa, Representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; e Ve­reador Nereu D’Ávila, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Pre­sidente convidou a todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional. A seguir, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca do evento, discorrendo sobre a concessão do Título Honorífico ao Homena­geado, bem como, sobre as atividades do mesmo em benefício da comunidade porto-alegrense. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Nereu D’Ávila, proponente e em nome das Bancadas do PDT, PT, PMDB, PTB, PPS, PV e PL, discorreu sobre os diversos setores em que o Frei Irineu Della Libera desenvolve se trabalho. Teceu comentários acerca dos relevantes serviços prestados pelo Homenageado à comunidade porto-alegrense. Falou, também, sobre as circunstâncias que levaram o Frei Irineu Della Libera a apoiar a comunidade do Bairro Partenon. Parabenizou o Homenageado pelo trabalho desenvolvido em prol dos humildes. O Vereador Vicente Dutra, em nome da Bancada do PDS, teceu co­mentários sobre o pronunciamento do Vereador Nereu D’Ávila, dizendo que pouco tem a acrescentar ao discurso do mesmo, tendo em vista que esse Vereador discorreu sobre a trajetória da vida e do trabalho do Homenageado de forma inusitada. Afirmou, ainda, que o Frei Irineu Della Libera reverte em felicidade para si tudo aquilo que ele oferece a comunidade porto-alegrense. Cumprimentou o Homenageado pelos serviços relevantes que vem desenvolvendo no Bairro Partenon. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega do Diploma pelo Vereador Nereu D’Ávila ao Frei Irineu Della Libera. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Frei Irineu Della Libera que saudou a todos os presentes e agradeceu a homenagem prestada pela Casa, dizendo que graças ao acolhimento do povo porto-alegrense, conseguiu alcançar este Titulo. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados pelo Vereador Nereu D’Ávila, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Nereu D’Ávila, Secretário “ad hod”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulso e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1° Secretario.

 


O SR. PRESIDENTE: Convido os presentes para ouvirmos, de pé, o Hino Nacional brasileiro.

 

(É entoado o Hino.)

 

Senhoras e Senhores, particularmente, na condição de Presidente desta Casa é extremamente grato presidir um ato em que um ser humano da grandeza do Frei Irineu recebe, com muita justiça, da Câmara Municipal o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Jovem, brilhante, que na sua comunidade se destaca, acima de tudo, não só como cristão, mas como homem atualizado com a sua vida, com o seu País, com o seu povo, especialmente, com a comunidade mais humilde. Poucas vezes esta Casa é tão feliz ao conceder um título de cidadania como, nesta tarde, ao Frei Irineu, graças a uma iniciativa do Ver. Nereu D’Ávila. Quero dizer ao Frei Irineu, pessoalmente, da minha amizade por ele e por vários companheiros seus de Ordem, inclusive, porque alguns anos da minha vida, como radialista na então Rádio Difusora, convivi com muitos capuchinhos e ali aprendi a ter por ele o mesmo respeito que eu já tinha desde jovem pelos Irmãos Maristas. Vejo aqui dois ex-professores meus, Irmão Norberto e o Irmão Avelino Madalozo que, à época, na década de 50,- nós estamos velhos não é Irmão - era o Irmão Luciano, meu regente no Colégio Rosário. Muita saudade tenho daquela época, muito aprendi e muito tem valido, ao longo da vida, os seus ensinamentos, a sua amizade e o seu carinho e respeito humano. Frei Irineu, é muito bom para nós termos aqui a sua presença, a presença de tantas autoridades, tantos amigos, tantos colegas, tantos paroquianos, tantas pessoas que vieram aqui para conviver conosco e viver com o Senhor este momento que tenho certeza dentro da sua humildade, essa legítima humildade franciscana, até por sua origem religiosa, por certo o senhor tem como maior importância o fato de que está sendo alvo de uma demonstração de carinho e de respeito pela Câmara Municipal de Porto Alegre. E para abrirmos as nossas homenagens formais convido a comparecer à Tribuna da Câmara o Ver. Nereu D'Ávila, que falará pela Bancada do PDT, a qual é líder nesta Casa, do PT, do PMDB, do PTB, do PPS, do PV e do PL.

 

O SR. NEREU D'ÁVILA: (Menciona os componentes da Mesa.)

Minhas Senhoras, meus Senhores, distintos amigos comuns do nosso Frei Irineu, da nossa Paróquia de São Judas Tadeu. Antes de mais nada é necessário ressaltar que estamos diante de uma personalidade. Os líderes, desde cedo, se destacam ocupando espaços nos mais diversos e diferenciados setores da sociedade. O Frei Irineu, hoje liderando uma parcela, da comunidade da grande Partenon, através da Paróquia São Judas Tadeu, veio como muitos de nós, talvez, a maioria de nós, como eu mesmo, lá de uma cidadezinha do interior, para projetar-se socialmente através de um trabalho profícuo e persistente aqui na capital do pampa gaúcho. Nos seus primeiros passos, nas suas primeiras atividades, já demonstrava o seu conteúdo de liderança, lá, no seu Município de Santa Bárbara, iniciando-se, inclusive, numa atividade política que, se ele seguisse, certamente hoje estaria nos mais altos postos, liderando também comunidades, assim como ele o faz como sacerdote. Talvez o destino tenha desejado que ele tivesse outra destinação, mas já demonstrava essa inequívoca capacidade de conduzir homens, de conduzir destinos lá, através do seu grêmio estudantil, onde, por três vezes, foi líder, inclusive sendo, também, uma das tantas vítimas do famoso Decreto-Lei 477 que, sob o tacão do AI-68, a tantos atingiu. Eu, na época, advogava e tive o privilégio de defender quatorze líderes de todas as faculdades da UFRGS, inclusive do Presidente do DCE, aos quais, por serem líderes estudantis, foi aplicado aquele famigerado Decreto-Lei 477, que desonrou a história democraticamente deste País, e que recaiu também no Frei Irineu, que foi impedido, inclusive, de pleitear uma cadeira na Câmara Municipal de Santa Bárbara. Quem sabe - nós todos perfilados na seara religiosa - se o destino lhe reservava uma outra função. E tenho certeza de que os paroquianos hão de dizer: "Foi melhor assim, porque assim, nós temos o Frei Irineu conosco, liderando a Paróquia de São Judas Tadeu." Eu, talvez, pensasse que ele poderia estar conosco aqui, hoje, por que não? Mas, quando nós homenageamos, aqui na Câmara, uma personalidade das tantas quantas se destacam nos nossos meios societários, nós temos o cuidado de não personalizar, de não fazer homenagens apenas pessoais, apenas egocêntricas, mas situamos a personalidade dentro do seu contexto, porque, como já dizia Ortega y Gasset "o homem é a sua circunstância, vive em torno da sua circunstância".

Portanto, devemos considerar o trabalho do Frei Irineu a circunstância em que ele se projetou. E ele projetou-se oriundo do movimento espiritual da Igreja, através de uma ordem religiosa, mas, projetou-se no seu trabalho comunitário. Inseriu-se, incrustou-se perfeitamente numa sociedade, num meio pobre, lá do Partenon, e ali alastrou o seu trabalho. E todos os Senhores e Senhoras são testemunhas do dinamismo, da força que trouxe o Frei Irineu para aquela Paróquia. Mas, como dizia, não podemos situar apenas a pessoa em relação a si mesma, mas em relação a projeção do seu trabalho.

E quando questionamos qual a nossa natureza, de onde proviemos, o que somos, somos obrigados a considerar que pertencemos, também, nós seres humanos, pertencemos ao reino animal. É claro, animal racional, que nos distingue de outros mamíferos.

Mas, evidentemente, esta circunstância é agregada da racionalidade posta nos neurônios do cérebro para que oriente nossos passos. Mas, também temos, e isto a psicanálise e a ciência já comprovaram, não deixamos de ter instinto dentro de nós, aquilo que os psiquiatras chamam de "id" em relação ao ego e ao superego. E este "id", este instinto, ele se não fosse doutrinado, disciplinado, educado, ele certamente nos traria ocorrências funestas, drásticas. E exatamente aí destaca-se a superioridade deste animal homem em relação aos seus outros co-irmãos mamíferos. E aí temos que dominar, talvez, aquilo que dentro de nós mais agrega a nossa personalidade que é a nossa, muitas vezes, vocação para egoísmo, para o egocentrismo. Aí, insere-se a espiritualidade, o espiritualismo, as doutrinas espirituais, quer sejam elas no âmbito da Igreja Católica ou de qualquer outra que pretenda aperfeiçoar o homem para que ele, em busca da sua felicidade, não esmague o seu próximo. A grande virtude da justiça é, justamente, ter a medida exata, saber onde termina a nossa circunspecção pessoal e onde começa a do nosso semelhante, para não prejudicarmos com o nosso egoísmo o nosso semelhante. Alias, a definição mais soberba de liberdade é aquela que diz que ela termina exatamente onde começa a do nosso semelhante. Aí insere-se a personalidade do Frei Irineu em relação à sua comunidade, ao seu trabalho. Homens dessa estirpe, homens dessa natureza, que se dedicam de corpo e alma aos outros, a um trabalho que carregue em si o benefício de terceiros e não o seu próprio, é aí que está a grandeza dos homens, aí é que está a distinção dos grandes homens em relação aos apequenados, aos amesquinhados, aos pobres de espírito. Esse homem se insere exatamente nesta faixa, porque se envolvendo através de um trabalho constante, um trabalho forte, um trabalho societário, só uma estatura de liderança desse porte pode, por exemplo, construir somente com o auxílio de uma comunidade pobre um galpão crioulo com quase 600m², como Frei Irineu liderou aquela magnífica construção em 1988. O galpão crioulo serve apenas para a Paróquia? Não, somos testemunhas que não, que é um centro social daquela comunidade! Os pensamentos políticos, sociais, daqueles que querem que as comunidades despossuídas em virtude da crise financeira em que vivemos, despossuídas completamente de qualquer circunstância material, acorrem nesses centros que são verdadeiros centros comunitários em busca de um pouco de lazer, porque todo homem, naturalmente, tem o divino direito de também ter o seu lazer. Mas o que mais impressiona a quem acompanha o trabalho do Frei Irineu naquela comunidade é o fato de ele, insatisfeito em apenas centralizar fisicamente os limites da Paróquia São Judas Tadeu, ele busca aquelas vilas mais pobres para lá inserir, também, um centro que possa agregar aquelas periferias desprivilegiadas. E mais, creio que talvez a sua maior propensão, aquela mais abrangente, aquele trabalho mais forte é quando ele busca desde uns dois anos atrás exatamente o trabalho com o menor. Eu dizia há pouco para os líderes do Lions Clube, que também vão se inserir neste trabalho do Bento Gonçalves que aí está a vocação e os olhos da modernidade. Por quê? Porque se chegou ao fundo do poço numa situação econômica do país em que o mais atingido além, naturalmente, do desemprego, da recessão e de tudo isso, mas os adultos resistem como podem. Mas e as crianças? Como aumentaram em Porto Alegre os pedintes, crianças que mal sabem pronunciar palavras, junto a sinaleiras, sinais, por toda a parte, vendendo laranja, onde e como possam sobreviver. Inclusive desrespeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente que proíbe o trabalho até os 12 anos. Mas é mais forte a crise e a não há como fugir disso. E os grandes centros a crise é maior. Mas a crise adentrou na Cidade de Porto Alegre. E eu apenas estava deslumbrando uma escola aberta de meninos de rua. Acho que a grande tarefa daqueles que se preocupam com o futuro da nacionalidade é se preocupar com o futuro da própria humanidade. Ela tem que voltar-se precipuamente, sem dúvida nenhuma, para o atendimento à criança, ao menor e principalmente ao menor abandonado, hoje chamado menino de rua. Então aí está o embrião deste fabuloso trabalho, que a comunidade tem que dar força ao Frei Irineu para ele desdobrar para nós. Porque este é um trabalho que não é a primeira pessoa, mas é o plural. É um mutirão que deve ser feito em torno da nação. Não quero aqui, e nem teria aqui este despropósito, esta descortesia com diferençados pensamentos políticos que possam estar presentes aqui numa homenagem comum ao Frei Irineu. Sou obrigado a falar por uma questão óbvia de justiça e de convicção que, sem dúvida, foi através do Governador Brizola, que sempre se preocupou com a criança. E hoje os CIACs, os CIEMs, enfim, tão combatidos por alguns, mas ali está, sem sombra de dúvida a grande função do acolhimento integral da criança porque a escola tradicional abriga a criança apenas com a merenda e depois larga a criança por um período inteiro na rua, porque ela vai, fatalmente, para a rua porque no barraco é que não vai ter o carinho que ela necessita. Então, isso tudo está começando a preocupar mais porque hoje em dia há que se ter esta grande preocupação, então lá há alguns anos este centro de triagem do trabalho em cima do menor e que eu, neste momento, estimulo e parabenizo o Lions para inserir-se neste trabalho a fim de que faça uma construção própria para projetar este trabalho. Então, eu acho que o Frei Irineu é daqueles que não diz só na São Judas que o trabalho espiritual é muito importante, sim. A espiritualidade, a comunhão, a conjugação do corpo com o espírito, sem dúvida, é um momento de grande prazer íntimo e de satisfação para a nossa alma, mas, sem dúvida, apenas ficar aí é mostrar-se incongruente, incompetente em relação a época em que estamos vivendo. Tem que se ir em busca não só da convicção de que o espiritual também leva ao material, ao material no sentido de proteção a sua comunidade e esta proteção inicia por onde iniciam-se todos os caminhos da humanidade, da criança, que deve ser protegida.

O Frei Irineu é o símbolo de tudo isso que tentei, acho que um pouco desaforadamente, um pouco desalinhadamente, conceber neste momento, mas estou convicto de que a nossa homenagem a ele através deste título que passa a ter hoje, ele que veio lá da Santa Bárbara que pertencia a Cruz Alta, lá perto da minha Soledade, ele que veio de lá e que hoje torna-se um Cidadão Emérito da Capital do Estado, formalmente. Formalmente porque quem tantos serviços tem prestado à comunidade porto-alegrense já era, de fato, um cidadão emérito da Cidade, apenas consubstanciei a informalidade das circunstâncias de fato, a formalidade da Lei e do papel.

Mas, aqui a presença dos paroquianos que orgulham ao Frei Irineu que orgulham a Câmara, como disse o Presidente Dilamar Machado, honram esta Casa que procura ser através dos seus 33 Vereadores, a síntese da Cidade de Porto Alegre. Mas, de qualquer forma a presença dos Senhores aqui é a real comprovação de que o Frei Irineu está certo, está no caminho certo, na concepção certa do seu grande trabalho na Paróquia São Judas Tadeu.

Então, concluo dizendo, que o Frei Irineu não honra só as tradições da Igreja Católica Apostólica Romana, das quais ele é um emérito representante, um emérito sacerdote.

As ilustres presenças aqui, inclusive, do Reitor da PUC e o representante da Ordem dos Capuchinhos, apenas glorifica a homenagem que está sendo feita ao Frei Irineu. Eu diria para o Frei Irineu, que na sua simplicidade, ele que é o guardião da humildade, que esta é virtude que nós devemos cultivar. Nunca pensando que o acúmulo de bens materiais é vencer na vida, muito pelo contrário, o aperfeiçoamento espiritual, este sim, qualifica, identifica o homem nos desígnios da divindade.

Frei Irineu receba em nome das Bancadas que foram nominadas, a homenagem desta Câmara Municipal de Porto Alegre, nesse entardecer outonal de um dia tão bonito. Ele, certamente, se coaduna com o esplendor da sua personalidade, com o tamanho do seu trabalho, da grandeza da sua obra. Que São Judas Tadeu, com quem em também tenho pessoalmente uma vinculação, porque a data de São Judas é a data do meu aniversário e, portanto, tenho uma identificação que o Frei Irineu sabe muito bem com São Judas Tadeu e que o Frei Irineu continue prestando esses relevantes serviços a nós todos em Porto Alegre, porque homens desta qualidade, desta estirpe é que conseguirão tirar o País do atoleiro em que se encontra. E a vocês paroquianos e paroquianas, conterrâneos lá da Paróquia São Judas Tadeu, certamente sentem-se também jubilados, honrados, contentes em ver o nosso Frei hoje, Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre.

Concluo, finalmente, homenageando, pedindo licença a vocês para homenageá-lo apenas com algumas palavras que o poeta referiu, por que elas enquadram-se na grande proposta de trabalho do Frei Irineu Della Libera. Disse o Poeta: "Não faz mal que amanheça devagar/ As flores não têm pressa, nem os frutos, porque sabem que a vagareza dos minutos adoça mais o outono por chegar/ Portanto não faz mal que devagar o dia vença a noite em seus redutos de leste/ O que nos cabe é ter os olhos enxutos e a intenção de madrugar. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, para falar em nome da Bancada do PDS, Ver. Vicente Dutra.

 

O SR. VICENTE DUTRA: (Menciona os componentes da Mesa.) Familiares do homenageado, paroquianos, amigos, membros do Lions Clube, aqui presentes, Srs. Vereadores.

Acho que o brilhante discurso proferido pelo Vereador proponente desta Sessão, ele, por si só bastaria nesta tarde, Ver. Nereu D'Ávila, porque abrangeu todos os aspectos que poderiam ser destacados, que envolvem a homenagem de um religioso, de um frei, prestada pela Casa do Povo de Porto Alegre. Foi profunda a sua mensagem, e muito feliz, Ver. Nereu D'Ávila, e pouco teríamos a acrescentar. Eu li e reli a Exposição de Motivos apresentada pelo Vereador proponente, indicando a homenagem prestada pela Casa, concedendo o Título de Cidadão Emérito ao Frei Irineu Della Libera. Identifico aqui, nestas poucas páginas, uma vida profunda, inteiramente dedicada ao próximo, uma vida dedicada ao amor. O Frei Irineu nos dá a todos um exemplo extraordinário de dedicação ao próximo, no momento em que a sociedade, o mundo, o País, e mesmo nossa Cidade, estão tão apartados desses sentimentos maiores, que são os sentimentos da solidariedade, da participação, do amor. Nós aqui, no Legislativo, estamos sempre em busca do espírito da lei, num debate de termos jurídicos para a busca do bem comum, e, muitas vezes, buscamos determinadas normas para o espírito daquela lei. Nós também, quando redigimos uma lei, nós buscamos torná-la como tema central de algo que anime, algo que lhe dê alma, que possa orientá-la no sentido do que buscamos quando estamos fazendo uma proposição nesta Casa. E o Frei Irineu, identifico na sua vida, na sua trajetória, na sua vida de religioso, que ele encara perfeitamente o espírito do Evangelho; todo aquele palavreado do Evangelho, todas aquelas mensagens belíssimas na mensagem de Cristo, poderíamos resumi-la em uma palavra só: o amor. Aliás, é o próprio Cristo que nos diz: "a maior virtude é a virtude da caridade". Outras virtudes são importantes, mas a da caridade é a maior de todas. De nada vale as demais virtudes, se não tivermos o amor, tudo é vão, tudo é passageiro.

Mas, o que mais me emociona na vida deste homem, deste jovem, que deixou família, que deixou uma vida certamente exitosa na vida civil, pobre por convicção, é de que quem olha desavisadamente e examina um currículo desses apresentado na Lei, poderá dizer: "pobre homem, com vida, charmosos, tem tudo pela frente e deixa tudo isso para ser pobre e viver numa vila para dedicar-se aos outros. Pobre homem, poderão dizer. Pobre nada. Pobre de nós, porque, sobretudo, o Frei Irineu transmite e transpira felicidade. V.Exª, Ver. Nereu D'Ávila foi muito feliz ao trazer a esta Casa este exemplo de vida. Ele está aqui: é a felicidade em pessoa a nos dizer que fazer o bem, dedicar-se aos outros, praticar a caridade, ter preocupação pelos outros, despojar de si, largar esses bens que só nos trancam no andamento da perfeição, eles só trazem   a felicidade, embora enfrentando problemas que, quem sabe, chorando com aqueles aos quais ele estende a mão, mas isso reverte num enriquecimento de alma e numa vida de um homem feliz.

Por isso, Frei Irineu, só tenho aqui, em nome do meu Partido, o PDS, agradecer ao Ver. Nereu D'Ávila por trazer para registro dos Anais desta Casa um exemplo de vida; agradecer ao Senhor Frei Irineu, à sua comunidade, aos paroquianos que o acompanham, aos seus familiares, por tudo aquilo que o Frei Irineu representa aqui em Porto Alegre. São os verdadeiros heróis anônimos, vejo seguindo estátuas de heróis brandindo espada e acho que chegará o dia que nós ergueremos estátuas de tipos Frei Irineu, homens que ao invés de espadas pregaram o amor. Só espero que o seu exemplo frutifique que possamos nesses dias de angústia e até de incertezas o seu exemplo possa transbordar e servir a tantos outros que muitas vezes desavisados e angustiados não sabem o caminho, e o caminho está aqui, é o despojamento, o amor ao próximo, a dedicação aos outros, meus cumprimentos. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, quero registrar a presença também nessa Sessão, do nobre Ver. Ervino Besson, que na Cidade de Deus onde atua politicamente é uma espécie de Frei Irineu, sem batina. Gostaria de explicar aos senhores e senhoras que visitam eventualmente pela primeira vez a Câmara Municipal, que a concessão do título de Cidadão Emérito de Porto Alegre é prevista em lei, e ela é concedida por deliberação da maioria dos Vereadores por proposição de um Vereador, no caso, proposta pelo Ver. Nereu D'Ávila para pessoas que tenham as qualidades intrínsecas e extrínsecas do Frei Irineu. Parece-me que os Vereadores Nereu e Vicente Dutra foram extremamente felizes ao definir a personalidade e principalmente o "standard" de vida do homenageado de hoje. Ele indiscutivelmente está enquadrado no bom sentido nesses parâmetros necessários para que os Vereadores deliberem, mas no caso dele não foi aprovado pela maioria, foi pela unanimidade da Casa, é a Casa Legislativa de Porto Alegre, que nesse momento, Sr. Presidente, convida o Ver. Nereu D'Ávila a comparecer até a Mesa Diretora dos trabalhos para fazer a entrega ao Frei Irineu do título do diploma de Cidadão Emérito de Porto Alegre, pediria que os presentes permanecessem de pé.

 

O SR. NEREU D'ÁVILA: Entrega o diploma ao homenageado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o nosso homenageado, Frei Irineu Della Libera.

 

O SR. FREI IRINEU DELLA LIBERA: (Menciona os componentes da Mesa.) Demais autoridades, aqui presentes.

Há quem maneje a palavra, sensibilizando multidões e alterando-lhes os impulsos. Há quem administre os recursos da terra, sustentando a comunidade. Há quem escreve, traduzindo os pensamentos dos outros. Há quem se vê já capaz de lidar com os mais altos valores artísticos influenciando os sentimentos alheios. Há quem aplique os princípios da justiça, com equidade e discernimento. Há quem traga o coração acordado para compreender a natureza e auxiliá-la com amor.

Com este pensamento, desejo saudar a todas as autoridades aqui presentes, civis, militares e religiosos e ao povo de Porto Alegre, nesta hora em que recebo da Câmara Municipal desta querida Porto Alegre, esta Distinção, de proposição do nobre Vereador Nereu D'Ávila, M.D. representante de nossa comunidade no Partenon.

Recebo tal condecoração, com humildade e de coração agradecido, mas ao mesmo tempo com um espírito de profunda responsabilidade.

Há mais de onze anos, resido nesta Cidade, e com muito orgulho, sempre fiz dela a minha terra, e o meu lar. Nos primeiros anos, embora comprometido com os estudos e minha formação pessoal e religiosa, já descobria as maravilhas desta cidade e de sua gente. Seus valores, suas alegrias e também as preocupações e problemas.

Em 1981 trabalhei na TV e na formação de agentes e líderes das comunidades junto a Arquidiocese de Porto Alegre, bem como na Pastoral da Juventude.

Em 1983, preocupava-me com os moradores das ribeirinhas do Guaíba e com os moradores das vilas de Belém Novo.

Em 1985, iniciei minhas atividades à frente da Paróquia São Judas Tadeu em Porto Alegre, no Bairro Partenon, uma área de mais de 100 mil habitantes. Área esta desde sua origem marcada por problemas e que continuam até hoje.

Em 1994, as enchentes empurram os primeiros moradores para os banhados e hoje os desequilíbrios da Economia e a falta de moradia, empurra o povo de Porto Alegre para aquela região, fazendo com que construam seus barracos pelos morros.

Pessoas humildes, pobreza, mas gente de coração grande. Aí me acolheram como Pastor.

Com o passar dos dias engajei-me na sua luta. Quem tem fome, pede pão. Quem não teme vida digna, clama por respeito.

Vejo a natureza sendo depravada. Vejo as moradias subindo o morro. Vejo as crianças, com baldes, indo e vindo das cacimbas. Vejo idosos sem atendimento, sem remédio, sem pão e sem calor. Vejo a violência, dos grandes, seguida pelos pequenos e até me torno vítima. Vejo escolas quase abandonadas e muitas crianças sem escola. Vejo crianças pelas ruas, sem meta e sem perspectiva de ser gente amanhã. E como falar?

Envolvo-me e para esta realidade, nesta Cidade dos homens algo devemos fazer.

Indistintamente, ocupemos o lugar que quisermos, galguemos o posto que tivermos, mas somos, todos chamados a edificar o futuro de nossa Cidade. Um futuro de paz, de prosperidade e de concórdia.

A dor de hoje deve ser aliviada imediatamente. A fome de agora deve ser saciada.

Mas a solução só virá se formos capazes de matar o mal pela raiz, organizarmos nosso futuro. Futuro que será garantido quando todos, todos os cidadãos segundo suas próprias responsabilidades e com uma única preocupação, soubermos criar e manter relações baseadas no respeito do bem comum. Bem comum que põem no meio de tudo... O homem... Criatura de Deus.

Ao realçar vigorosamente esta realidade, eu me dirijo a todos vós Vereadores, homens políticos, jornalistas, militares, profissionais desta terra querida de Porto Alegre.

Somos os construtores desta sociedade Pluralista, de hoje, nossa gente tem uma complexa riqueza neste mundo moderno tem um dinamismo e tem vitalidade.

Aliada a força e a capacidade criativa e construtiva do homem, nos espanta a alienação a que nossa gente é submetida e a que nossa sociedade e é reduzida.

As profundas angústias e a debilidade da civilização atual e a não compreensão do valor e a identidade do homem, preocupa a todos nós, pois a auto-suficiência, imposta ao homem, conduzindo-o a uma cultura e a técnicas fechadas ao transcendente, reduzindo-o a mero instrumento de produção, vítima de ideologias pré-concebida e da maldade das leis econômicas, fazendo do homem um ser cada vez mais empobrecido, condicionado e sem responsabilidades, lógico, a ética.

Senhores Vereadores: aproveito a oportunidade que me é concedida para ir além mais.

Nosso povo, sabem os Senhores, passam fome, sofre. Somos contra a uniformidade de interesses para defender os direitos do povo, mas necessitamos buscar soluções para tantos problemas, unicamente na unidade da pluriformidade e no bem de nossa gente.

Vosso trabalho como representante do povo, o meu trabalho como representante de uma comunidade religiosa, o trabalho de outros cidadãos, unidos nesta pluriformidade poderá dar respostas a estas questões.

O amor que tenho por esta Cidade de Porto Alegre, fazendo dela o meu recanto, o amor que tenho por esta terra do Rio Grande do Sul, terra de São Pedro, e a terra de Sepé Tiaraju, com seu grito de esta terra tem dono, nos faz cada vez mais comprometido com seus problemas.

Nos anos 60, 80% da população vivia no interior. Decorridos 32 anos, esta história está inversa. Agora possuímos os 80% da população morando nos grandes centros. Nesta realidade está nossa Cidade de Porto Alegre.

Os valores morais, espirituais, éticos e humanos, tornam-se depravados pela imensa gama de violação a que é submetida a toda hora.

Sou pastor de almas, mas não acredito de que Deus possa salvar a alma se o corpo estiver doente.

Preocupa-me os menores de rua, os das vilas sem escola, com fraca alimentação, sem perspectivas para o mundo do trabalho. Para eles precisamos criar projetos alternativos, envolvendo-os nas comunidades, atendidos em pequenos centros, com monitoramento e acompanhamento na escola, na família e no ingresso ao mundo do trabalho. Creio ser este um projeto alternativo, capaz de dar uma nova pista e método educacional.

Preocupa-me a situação dos jovens do meio rural, quer vindos do interior do estado, bem como os do meio rural do Município de Porto Alegre. Pois estes, na medida que adquirem idade para os estudos, vem somar nas fileiras do mundo urbano, abandonando seu meio e sua cultura. Estes poderão ser salvos se criarmos também trabalhos alternativos em seu próprio meio, tal como: Plantio de hortigranjeiros, e sua comercialização de forma cooperativada. Plantio de árvores frutíferas, seu cultivo e conseqüente comércio e industrialização. O incentivo ao artesanato caseiro, e a criação de pequenos animais e o reaproveitamento do lixo, tanto para o comércio bem como para a fabricação do adubo orgânico. Preocupa-me a educação, tantas vezes desligadas das reais condições de vida dos estudantes e seus familiares e seu meio. Poderíamos elencar uma soma muito grande de preocupações. No entanto, todos poderemos fazer algo por alguma das grandes coisas que se nos apresentam.

Mas, quero registrar também aqui meu apreço e meu agradecimento pelo tanto bem e atenção de que muitos senhores Vereadores sempre têm dado a gente de nossas comunidades.

Como religioso não quero intrometer-me nos assuntos a que vós, Vereadores estão incumbidos. No entanto, quero reafirmar meu compromisso de contribuir no fortalecimento das bases espirituais e morais da sociedade, para que estejam sempre em sintonia com as exigências de uma ética humana e cristã.

Nosso povo de Porto Alegre é um bom povo. Sofrido na sua grande maioria e espera de todos nós, homens públicos e dirigentes, nossas mãos estendidas, de certa forma, temos nas mãos um certo poder, isto por causa de nossas posições, situações e encargos. Empreguemos pois, nossos esforços para o serviço da justiça social. Rejeitemos o egoísmo, quer coletivo, ou das classes. Recusemos a violência, como meio de resolver os problemas, pois esta destrói a vida. Apliquemos nossas forças a serviço da solidariedade que abrange todo o homem. Coloquemo-nos ao lado dos pobres, dos que são mais desprovidos. Eles também têm direitos.

Como lideres que somos, por excelência devemos ser coerentes com a vocação moral e fiel a ter uma consciência ética que vai além dos interesses pessoais ou de grupos, mas que vise a totalidade do bem comum e de todos os cidadãos. Depende de cada um de nós o futuro da Cidade de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul, do Brasil. Vivamos pois uma convivência na justiça.

Quero ao finalizar minhas palavras, agradecer a Câmara Municipal de Vereadores, aos Senhores Vereadores, por tão grande honra. Agradecer ao povo de Porto Alegre, ao povo da minha São Judas e das comunidades. Só foi possível estar aqui para receber esta honra, por causa de todos vós. Por isso a vós também dedico esta lembrança. Ao incansável amigo Vereador Nereu D'Ávila, Vereador que sempre nos acompanhou, um irmão na caminhada, sempre lado a lado, com presença humilde, singela, meu obrigado por ter proporcionado este evento. Rogo a Deus que lhe de força para poder sempre se defender e ser do povo de nossas comunidades fiel representante.

Enfim... Não tenhamos medo de olhar para a frente e de caminhar para o futuro. O ano 2000 cem aí e com ele muitas surpresas. Desejo que juntos, construamos um mundo melhor, elevando-o e tornando-o sempre mais digno do homem. E ao homem contemporâneo não desiludamos suas esperanças.

Muito obrigado a vocês, minha prece e o meu carinho. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e senhores, estamos chegando ao final desta Sessão Solene, mas eu gostaria de encerrar dizendo ao Frei Irineu que, entre tantas utilidades de uma Sessão desta ordem, em que o Ver. Nereu homenageia um homem da estrutura moral, religiosa e social do Frei Irineu, o que resta de importante para esta Casa, além de ter feito um ato de justiça, considerando-o legalmente um Cidadão Emérito da Cidade, é que o discurso é, aparentemente, despretensioso, mas de extrema profundidade social, do Frei Irineu, passa a engalanar a própria história da Câmara Municipal, porque ele vai para os Anais da Casa. E, ao longo dos próximos anos, esta Casa que já tem mais de 200 anos de atividade, por certo, em muitas pesquisas do 3º milênio, alguém poderá, um dia, dizer que os religiosos, que os capuchinhos do final do século, tinham e expressavam publicamente o pensamento que tem o Frei Irineu. Quero agradecer a presença de todos os ilustres convidados, particularmente, do nosso Cidadão Emérito Frei Irineu e também ao Sr. Representante do Sr. Prefeito, Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa, Irmão Norberto Rauch, Reitor da PUC, ao Representante da Ordem dos Capuchinhos, Frei Sérgio Dall'Moro, ao Representante da Escola Superior de Teologia, Frei Rovílio, igualmente ao Presidente do Lions, Porto Alegre- Bento Gonçalves, Dr. Élbio Lage.

A todos muito obrigado, ainda, registrando a presença do Ver. Wilton Araújo. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h18min.)

 

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